Igual ao Papai

Igualzinho ao Papai



Dizem que imitação é a maior forma de elogio.  Talvez por isso o papai sinta tanto orgulho quando seu filhinho tenta se cobrir de espuma de barbear--igualzinho ao papai.  Ou quando a menininha troca a fralda da sua bonequinha--assim como já mamãe fazer.  Claro, às vezes esses “elogios de papagaio” nos constrangem.  Como aconteceu quando um pai pediu para sua filha pré-escolar fazer o “Papai do céu” antes do almoço diante de muitos convidados.  Ela recusou, até que o pai disse, “Querida, só fale o que você sempre ouve mamãe dizendo para Deus”.  Então ela orou, “Ó meu Deus, porque eu convidei tanta gente para esse almoço?”

Nos primeiros anos de vida, naquela fase em que os pais ainda são os verdadeiros heróis dos seus filhos, nada mais natural do que um filho que quer ser igualzinho ao pai ou à mãe.  Especialmente no que diz respeito à carreira.  E pode ser que Deus use o contexto vocacional dos pais como “estágio”, colocando “água na boca” para o filho a seguir a mesma carreira. Mas normalmente a orientação ocupacional custa mais caro.

“O que você quer ser quando crescer?” talvez seja uma pergunta inocente para a criança.  Mas pode fazer o adolescente ou jovem tremer nas bases.  Como orientar nossos filhos para alcançar o que o livro de Eclesiastes considera um presente dado por Deus—poder curtir o fruto de um trabalho realizador (Ecl 2.24, 3.13, 5.18,19)?

Considerações Básicas

Em primeiro lugar, entendemos que o trabalho foi criado por Deus ANTES do pecado entrar na raça humana, e que representa algo bom pelo qual glorificamos a Deus.  Ele colocou o primeiro casal, Adão e Eva, no Jardim do Éden para o “cultivar e guardar” (Gn 2.15).  Os termos usados têm uma conotação “espiritual”—foram usados para descrever o serviço “sagrado” em Israel.  Mesmo a “jardinagem” pode ser um serviço santo!  Temos que tomar cuidado com as distinções entre trabalho “sagrado” ou “secular”; Deus honra todo serviço feito na força dEle e para Ele (Cl 3.17).  Temos que orientar nossos filhos que o trabalho em si não é uma maldição, mas um chamado digno, uma oportunidade de servir a Deus com os dons e as habilidades que Ele nos deu.

Segundo, temos que treinar nossos filhos para excelência no serviço.  Não devemos dar tudo “de mão beijada” –algumas campanhas recentes para “dizer não so serviço doméstico” ao contrário.  Os pais sábios programam tarefas básicas para todos os membros da família aprenderem fazer um serviço bem-feito, com atitude correta, para Deus e não para homens (2 Ts 3.10; Cl 3.23).

Finalmente, os pais precisam de muita sabedoria.  No plano de Deus são os orientadores principais  para direcionar a vida e as decisões de seus filhos.  Para isso, precisam conhecer bem a vida de cada filho, reconhecer as diferenças que existem entre eles (e nós), orar muito, e orientá-los sobre possibilidades ocupacionais realistas.

Estreitando o Foco

Veja, numa edição especial sobre a vida jovem, sugere que são mais de 150 opções vocacionais diante de um jovem, com novas opções surgindo a cada dia.  Como escolher?  O papel dos papais neste momento crítico de decisão precisa ser resgatado.  Na mesma revista, um artigo entitulado “Profissão” censura os pais que não se envolvem nessa fase difícil de avaliação profissional: “Esse momento de reflexão pode render bem mais quando é compartilhado com a família.  Mas, por excesso de liberalismo, muitos pais se omitem comadesculpa de não querer interferir na vida dos filhos” (Veja, agosto 2003, p.64).  A seguir, então, algumas sugestões práticas de passos que pais e filhos podem tomar para facilitar a escolha vocacional:

1.    Orar visando o Reino de Deus.

Esse é o ponto de partida bíblica sobre decisões vocacionais.  Jesus mandou que seus seguidores orassem que Deus enviasse (literalmente, “expulsasse”) obreiros para Sua seara (Lc 10.2).  Os pais que amam a Deus também amam a causa dEle, e clamam para que Ele escolha alguns—talvez os próprios filhos—para trabalhar na seara dEle.  Mateus 6.33 pede que demos a primeira escolha em tudo (inclusive a vocação) a Deus: Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”

2.    Conversar aberta e francamente com seu filho sobre seus interesses vocacionais.

Esse passo começa cedo na vida do filho, com “bate-papos” informais e ocasionais, sondando os interesses dele, apontando suas habilidades, sugerindo áreas onde talvez se daria bem no futuro.  Na nossa família, gosto de sair com cada filho individualmente de dois em dois meses justamente para explorar opções nesta e outras areas de suas vidas.

3.    Expor seu filho a opções vocacionais.

A Bíblia encoraja decisões tomadas depois de consultar a “multidão de conselheiros” (Pv 11.14). Uma maneira de fazer isso nas decisões vocacionais é visitando lugares de serviço e/ou entrevistando representantes de várias profissões.  Fábricas, consultórios, oficinas, ministérios, e mais oferecem oportunidades para o filho conhecer a realidade, os benefícios, as dificuldades e o preparo necessário para muitas carreiras.

Uma opção que as igrejas podem explorar é uma “semana vocacional”.  Durante alguns anos nossa igreja tem promovido esse encontro anual, em que profissionais de dezenas de ramos vocacionais (a maioria, membros da igreja) apresentam sua ocupação, dando uma visão de como seu serviço pode ser usado para glorificar a Deus.  A semana sempre atrai muitos jovens da vizinhança também, todos ansiosos por conselhos sábios vocacionais.

4.    Ajudar seu filho a limitar as fronteiras.

Os pais estão na melhor posição para ajudar os filhos a discernirem quais são suas aptidões e preferências vocacionais.  Tente descobrir com cada filho que tipo de trabalho  mais o agradaria, usando a seguinte lista como “guia de conversa”:

*Você gosta de “falar” ou prefere servir “atrás da cortina” (veja 1 Pe 4.10,11)

*Sente-se mais à vontade trabalhando atrás de uma mesa ou “ao ar livre”?

*Prefere trabalhar com pessoas ou com coisas?

*Gosta de trabalho cerebral ou braçal (mecânico)?

*Sente um chamado para ministério “vocacional” ou um trabalho “secular”?

*Gosta de gerência (liderança com responsabilidade) ou prefere ficar na retaguarda?

Esses são exemplos de perguntas que podem ajudar o jovem a focalizar em certas profissões e não outras.  Por exemplo, alguém que não gosta de falar, prefere o escritório, trabalha com papel num serviço mais cerebral e secular, com interesse em gerência, talvez consideraria serviços como contabilidade, arquitetura, ou engenharia.

Encoraje o filho a fazer testes vocacionais, profissionalmente elaborados e muitas vezes oferecidas em escolas e empresas de orientação vocacional.  Embora os resultados não sejam infalíveis, podem ajudar o filho, especialmente aquele cujos pais o orientam, a limitar as opções vocacionais.

5.    Avaliar as “circunstâncias divinas”.

Temos que tomar cuidado para que o filho não se desanime diante de alguns obstáculos ou impecílios.  Mas temos que ajudá-lo a reconhecer sinais de que Deus não o capacitou para certas profissões.  Um jovem com 1 m. e 65 cm provavelmente não será um jogador profissional de basquete. Alguém que não consegue segurar uma nota afinada, dificilmente terá uma carreira musical.  Um vestibular fraco, a falta de recursos para fazer determinado curso, a ausência de habilidades básicas e outros fatores podem eliminar certas vocações da lista.

Essas sugestões não podem garantir sucesso na busca de um serviço realizador para o resto da vida.  De fato, a maioria das pessoas hoje muda de carreira de anos em anos.  Não devemos desesperar se uma escolha vocacional não dá certo.  Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica, disse depois de muitas experiências fracassadas, “Pelo menos sabemos mais uma coisa que não funciona!”  Acima de tudo, pais e filhos devem orar a Deus pela vontade dEle.  Talvez o filhos nunca se torne “igualzinho ao papai” em termos de profissão, mas pode imitá-lo em termos de uma vida de dependência e humildade diante de Deus na procura de uma profissão digna, recompensadora e realizadora.

Pr. Davi Merkh