Pai-Pastor

O Pai Pastor

                                                                 

Talvez um dos acontecimentos que causa mais orgulho no papai ou na mamãe é quando o filho tenta imitá-lo.   O pai pega um martelo e prego, e o filho faz igual.  A mãe troca a fralda do neném, e a filha faz a mesma coisa com sua boneca.  De vez em quando os filhos nos envergonham quando nos imitam, como aconteceu quando uma mãe pediu que sua filha orasse antes de uma refeição com várias visitas em casa.  "Mas não sei o que orar" ela respondeu.  Sua mãe disse, "Diga o que você sempre ouve mamãe falando para Papai do céu." Então a filha orou, "Ó meu Deus, por que eu convidei tanta gente para almoçar aqui em casa . . . ?"

Apesar da vergonha que às vezes passamos, o pai cristão realmente tem a responsabilidade de formar crianças à imagem de Cristo Jesus (Rm 8:29).  Assim como o apóstolo Paulo declarou em 1 Co 11:1 "Sede meusimitadores, como também eu sou de Cristo", o pai deve modelar para o filho o Senhor Jesus Cristo, para que o filho siga os seus caminhos.

Esta responsabilidade de modelar Jesus perante os filhos não é somente o que Deus requer de líderes espirituais,  como, por exemplo, pastores, mas de pais também.  De fato, há muitos paralelos entre o que o pastor da igreja faz e o que os pais de família fazem.  Pense no que diz 1 Tm 3:4, 5 quando alista as qualificações de um pastor-presbítero: "e que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?"  A pessoa escolhida para liderar o rebanho de Deus ganha experiência, autoridade e credibilidade no pastoreio do pequeno rebanho que Deus lhe concede, sua família.

Podemos chamar isso "o sacerdócio do pai" ou talvez "o pastoreio do papai".  Todo pai é um "pastor" do rebanho que Deus lhe concedeu.  Toda mãe tem a responsabilidade de cuidar das almas daqueles pequeninos que Deus colocou em seu aprisco.

É interessante traçar os paralelos entre o papel do pastor e o papel dos pais.  Vejo pelo menos três responsabilidades paralelas entre os dois:

I.  Intercessão

Segundo Atos 6:2,4, uma das primeiras grandes responsabilidades do líder espiritual é a oração.  Assim, o grande patriarca Jó era um pai-pastor.  O primeiro capítulo de Jó descreve-o como um homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal (1:1).  A Bíblia destaca a maneira como Jó demonstrava sua piedade: intercedendo por seus 10 filhos.  Jó ficava preocupado com o bem-estar espiritual deles, especialmente depois das festas e banquetes que realizavam.  Lemos sobre ele, Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia, "Talvez tenham pecado os meus filhos, e blasfemado contra Deus em seu coração.  Assim o fazia Jó continuamente"(Jó 1:4,5)

Cada vez que leio este texto, lembro-me do meu avô paterno. Uma das minhas primeiras memórias é do vo-vô, ajoelhado ao lado do sofá, de madrugada, intercedendo por sua família.  Deixou uma marca profunda na minha vida, e certamente explica uma das razões por que vários de seus netos são ativos no ministério hoje.

Os pais que oram intercedem que seus filhos não sejam enredados pela armadilha do pecado. O pai intercessor ergue paredes de proteção ao redor de seu filho, preocupando-se com seu bem estar e seu relacionamento com o Senhor.

Assim como o vítima de AIDS não tem uma defesa imunológica contra doença, o pai que não intercede por seus filhos os expõe aos perigos do pecado.   Não creio que isso seja uma defesa "mística", muito menos uma "fórmula mágica", mas uma expressão de dependência paterna e clamor pela graça de Deus . O pai que ora continuamente pelos filhos certamente agirá também para protegê-los contra o pecado.

Mas como orar pelos filhos?  Gostaria de sugerir um esboço muito simples que serve como guia na minha oração pelos meus seis filhos.  Os pais cristãos devem podem orar:

a) Pelo caráter dos filho (o fruto do Espírito, Gl 5:22 junto com a compreensão da sua identidade como filhos de Deus em Cristo, Ef 1:15-23,3:14-21)

b) Pela carreira(orar ao Senhor da seará que use meus filhos para expandir Seu Reino no mundo--Lc 10:2)

c) Pelo casamento (orar que Deus direcione meu filho ao cônjuge com quem compartilhará sua chamada para o resto da vida)

O pai pastor intercede pelos seus filhos.  Mas assim como o pastor, que se dedica à oração e ao ministério da Palavra, o pai pastor também se preocupa com o ensino de seus filhos.

II.  Instrução.

O pai e a mãe estão sempre ensinando seus filhos pelas palavras, pelas ações e pelas atitudes.  É impossível escapar do olhar destas pequenas ovelhas, que admiram tanto seus "pastores".  Sempre estamos transmitindo o que somos para elas.  Com tempo, os filhos se tornam o que os pais são.  Por isso o "pai pastor" tem que reconhecer que ele é um "pai professor", sempre instruindo seus filhos e vacinando-os contra a doença de "amnésia espiritual".

Amnésia espiritual é a doença que aflige os filhos de crentes que não se esforçam em transmitir sua fé para a próxima geração.  É a memória de Deus apagada da vida de um filho pela negligência dos pais.  A doença atingiu uma geração inteira do povo de Israel depois do êxodo, quando"outra geração se levantou, que não conhecia ao Senhro, nem tão pouco as obras que fizera a Israel" (Jz 2:10).  Isso porque os pais que haviam experimentado tantos milagres e a presença do Senhor, não levaram a sério o conselho dado por Moisés em Deuteronômio 6:6-9:  Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te.  Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os teus olhos.  E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas."

Conforme estes versículos, o pai-professor aproveita toda oportunidade para ensinar seus filhos os valores e princípios bíblicos transmitidos pelo Supremo Pastor.  Ele ensina a Palavra formalmente e informalmente, propositalmente e espontanea­mente, em todo lugar e em qualquer lugar, em todo tempo e o tempo todo.  Não é fanaticismo fingido mas um estilo de vida exemplificado, que avalia toda a vida por uma perspectiva bíblia.  "O pai que ama Deus de todo coração, transmite sua fé à outra geração!"

III.  Intervenção (Correção)

A última responsabilidade do "pai-pastor" segue naturalmente as primeiras duas.  Provérbios 22:6 chama o pai para "ensinar a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho, não se desviará dele."  Junto com este texto, Efésios 6:4 chama os pais (o termo "pais" designa especificamente homens) a "não provocar seus filhos à ira, mas criá-los na admoestação e na disciplina do Senhor."    Assim como o pastor de rebanho vai atrás de ovelhas desgarradas e às vezes precisa discipliná-las, para que evitem perigos maiores longe do aprisco, os pais precisam intervir na vida dos seus filhos com disciplina equilibrada.

O equilíbrio entre instrução e intervenção ou seja, disciplina, pode ser entendida por meio de uma analogia.  O pai vai na frente do seu filho como alguém que quer cavar uma trilha ou valeta em que o filho pode caminhar.  No início, a valeta está muito rasa, e o filho pode sair dela com facilidade.  Quando isso acontece, o pai-cavador coloca seu filho de volta na trilha cavada com firmeza e amor.  Com o passar de tempo, a valeta fica cada vez mais funda, e o filho só poderá escapar dela com grande esforço.  Quando isso acontece, o papai o coloca dentro do caminho de novo.  Depois de 18 anos, a trilha deve ser tão profunda, que o filho teria que chamar o corpo de bombeiros e uma escadona para sair do caminho do Senhor.  É possível, mas não muito provável.

O pai que realmente ama seu filho precisa intervir quando este deixa o caminho da instrução.  Provérbios recomenda o uso da vara, uma consequência artificial mas estruturada pelos pais, para desviar os filhos do pecado.  Deve ser aplicada com força suficiente para arder mas nunca ferir a criança.  Assim o pai ajuda seu filho a associar o pecado com dor, assim evitando conseguências muito piores no futuro, proporcionadas pela própria vida.

Muitos anos atrás vi algo que me ajudou muito a entender o papel dos pais na disciplina dos filhos.  Na ocasião estive na África com um time de futebol, jogando em várias aldeias, procurando construir pontes de amizade entre os missionários e o povo.  Num domingo tive a oportunidade de pregar numa colônia de pessoas leprosas.  Aprendi muito sobre aquela doença tão perniciosa, que faz com que pessoas percam dedos, mãos, orelhas e outros membros de seus corpos.

Descobri que o problema da lepra não é que a doença em si ataca as extremidades do corpo, mas que dessensibiliza os nervos.  A pessoa atingida perde a sensação de dor e, por isso, torna-se insensível a machucadas que acabam destruindo seu próprio corpo.

Neste sentido, o pai ou a mãe que recusa disciplinar seu filho pode condená-lo à lepra espiritual.  A dor artificial proporcio­nada pela vara cria "nervos espirituais" pelos quais o filho aprende a evitar o pecado.  Se não, o perigo no futuro será bem maior, quando a falta de sensibilidade espiritual leva o filho a apanhar da vida.

O pai-pastor trabalha de noite e dia para proteger seus filhos contra AIDS espiritual pela intercessão, contra amnésia espiritual pela instrução, e contra lepra espiritual pela intervenção de disciplina.  Realmente é uma responsabilidade de 24 horas por dia.  Como alguém certa vez comentou sobre a responsabilidade de criar filhos, "qualquer um pode gerar um filho; exige alguém especial para ser um papai."  Apesar das nossas muitas falhas, Deus pode nos dar a graça de sermos pais e mães dignos de serem imitados pelos nossos filhos.  Que sejamos mais que progenitores de filhos,  pais-pastores.

 

Pr. Davi Merkh