Exposição Verdadeiramente Cristã

Pr. Davi Merkh

 

Conta-se a história de um professor de homilética de um seminário que gravou e mensagem de um pregador de rádio de sua cidade, que tocou para seus alunos.  Juntos escutaram a voz sonora de um pregador cativante.  No final da mensagem, o professor pediu para seus alunos avaliarem a mensagem.  Eram unânimes que fora um dos melhores sermões que já ouviram.  Até que o mestre explicou que o homem era líder de uma seita que negava a divindade de Jesus.  O problema não estava no que o pregador falou, mas no que ele NÃO falou.  Sua mensagem era anti-cristã.[1]   

O apóstolo João, amigo íntimo do Senhor Jesus, advertiu, “Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1 Jo 4:1).  Paulo diz que essa ameaça atingirá proporções gigantescas no fim dos tempos: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios . . . Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (1 Tm 4:1, 2 Tm 4:3). Será que você e eu já adquirimos um “radar bíblico” de exposição cristã para detectar falsos profetas?  Afinal das contas, o que É exposição cristã?  

 

O Que Exposição Cristã NÃO É

 

 

 

1)    Exposição cristã NÃO é citação ou memorização de fatos e textos bíblicos.   

Certamente a exposição cristã INCLUI a divulgação de grandes histórias e fatos bíblicos: como Davi matou Golias, onde Paulo foi nas suas viagens missionárias, os nomes das 12 tribos de Israel.  Saber que a Bíblia tem 66 livros, 1189 capítulos e 31.173 versículos é interessante.   E poder citar textos bíblicos de cor pode ter muito valor na luta contra pecado.  Mas os fariseus eram campeões de concursos de EBS (Escola Bíblica Sabatina), sem ter a mínima noção do que era exposição cristã.  Todos nós conhecemos pessoas “craques” de Bíblia mas com vidas podres.  O próprio diabo conhece bem a Bíblia, mas não por isso é expositor cristão (veja Tg 2:19; Mt 4:6).  Conhecimento bíblico é fundamental, mas não é a essência da exposição cristã.  Exposição verdadeiramente cristã toca o coração, a vida do indivíduo, com a mensagem de esperança em Cristo. 

2)      Exposição cristã NÃO é moralização.“Ame a seu próximo.” “Não tire o que não lhe pertence.” “Levante na presença dos idosos.”  “Não brigue com sua irmã.” Certamente princípios morais são importantes, e fazem parte de exposição cristã.  Mas a Bíblia não foi escrita como livro de etiqueta. O problema não está nos princípios morais em si.  O problema é quando “moralizamos” numa maneira que seria tão apropriada numa sinagoga judaíca, mesquita muçulmana, ou Templo dos Mórmons como na igreja evangélica.  Uma mensagem ou lição que recomenda moralidade e compaixão sem falar de Cristo permanece sub-cristã, mesmo que o mensageiro consiga provar que a Bíblia exige tal comportamento.   

 

O Que Exposição cristã É

 

 

Certa vez uma menina pré-escolar tinha que fazer o papel de Maria, mãe de Jesus, num teatro natalino.  No início tudo ia muito bem, e “Maria” sorria com satisfação enquanto admirava a boneca na manjedoura.  Mas logo os animais, e pastores, e outras pessoas encheram o palco, até que ninguém podia ver o berço humilde.  Foi então que a menina levantou a boneca  sobre a cabeça de todos, onde ele ficou até o final da peça.  Depois, quando alguém perguntou por quê ela fez assim, a menina declarou, “Todos estavam tirando seu lugar. . . eu tinha que levantar Jesus!” O que é exposição verdadeiramente cristã?  Numa palavra, exposição cristã é pregação (ensino, discipulado) focalizada na Pessoa de Cristo.  Jesus Cristo é o que faz exposição cristã, cristã!  Ele é o destaque, a distinção entre ensino religioso e ensino cristão.  Ele é o ponto central de TODAS as Escrituras.  Autor Bryan Chapell em seu livro Pregação Cristocêntrica esboça dois grandes temas que se destacam em pregação verdadeiramente cristã.  Não representam um “esboço homilético” mágico para pregadores, nem uma fórmula simplista que sempre produzirá o resultado desejado.  Mas são elementos que devem estar presentes de alguma forma em toda proclamação que se diz “cristã”.  

1)    Exposição cristã expõe a necessidade que o homem tem de Cristo.Não adianta ensinar princípios morais, se deixarmos a impressão de que o homem seja capaz de cumpri-los por si mesmo.  Somente a graça de Deus, pelo Espírito de Cristo, por causa da vida de Jesus em nós, nos capacita a viver a vida cristã.  “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim . . . Cristo em vós, a esperança da glória” (Gl 2:20; Cl 1:27).  Na criação de nossos filhos, nas nossas aulas de EBD, nos nossos púlpitos, temos que expor a carência que o homem tem de Cristo.  Sem Jesus, ninguém se salva.  Sem Jesus, ninguém pode viver a vida cristã (Jo 15:5).   Mas como fazer isso de forma prática?  Como pais, precisamos manter o padrão alto de santidade que Deus estabeleceu para nossos filhos, um padrão que visa atingir o coração (Mt5:48; Pv 4:23).   Pais servem como espelhos para os filhos verem o reflexo do seu interior.  O pai que estabelece um padrão de fácil acesso, ou que focaliza somente o exterior (como os fariseus) cria um filho legalista ou um filho que não reconhece sua necessidade de Jesus.  Professores e pastores atingem o coração quando expõem a santidade de Deus e a carência do homem, sempre apontando para a capacitação divina pela vida de Jesus. 

2)      Exposição cristã exalta a solução divina para o homem: A Pessoa de Cristo. Se nosso ensino somente aponta a necessidade do homem, sem levar à cruz, avançamos Lei sem Graça.  Colocamos os ouvintes debaixo da Velha Aliança, sem contar-lhes o fim da história.  Infelizmente, muito do nosso ensino (e muitos movimentos sub-cristãos de hoje) põem o povo debaixo da Lei, como se a cruz e a ressurreição de Cristo nunca tivéssem acontecido, e como se eles, pelos próprios méritos, pudessem ser aceitos diante de Deus. 

Exposição cristã leva o descrente atá a cruz e o túmulo vazio, e leva o crente à semelhança com  Cristo.  Essa foi a “filosofia de ministério” do apóstolo Paulo (Cl 1:28,29).   Antes de você boquejar e dizer “Já sabia tudo disso!”,  considere as implicações da verdadeira exposição cristã. 

Sei que eu MUITAS vezes tenho pregado, em nome de “exposição cristã”, mensagens que não apontavam para Cristo.  Por exemplo, certa vez estava prestes a dar um desafio num colégio evangélico sobre Pv 15:1 “A resposta branda desvia o furor, mas palavras duras suscitam a ira.”  Iria exortar as crianças a não ficarem iradas, a sempre falarem palavras suaves, a não provocarem seus colegas.  Mas de repente reconheci que aquela mensagem seria perfeitamente aceitável numa sinagoga judaiça ou entre os Testemunhas de Jeová.  O que faltava?  Um esclarecimento de que sem Jesus, ninguém era capaz de devolver palavras brandas por palavras duras; que a vida de Jesus realmente exemplificava essa atitude; que Jesus morreu e ressuscitou em meu lugar, para que a vida dele seja vivida em mim; que aquele que ama Jesus guarda seus mandamentoe; que Ele quer tomar conta das minhas palavras e falar através de mim.  Por pouco fui poupado de ensinar uma mensagem que chamo “sub-cristã”. 

Infelizmente, muitas vezes ficamos empolgados com tudo em nossas igrejas, menos Cristo.  A estratégia de Satanás é desviar nossa atenção do que é central, para patinarmos sobre a periferia da nossa fé.  Enchemos o calendário da igreja com programas.  Envolvemo-nos na política.  Muitos hoje seguem doutrinas estranhas ou margenais, farejando anjos (ou demônios), reivindicando bênçãos, declarando prosperidade, amarrando (ou desamarrando), mercadejando sinais, milagres e poder, tudo em nome de Jesus, mas muitas vezes sem proclamar a Jesus! (Mt 7:22,23). 

Talvez a maior abertura que temos dado para o inimigo está na música, onde se vê uma tendência de desvalorizar o valor final da cruz e da Pessoa de Jesus, e uma exaltação demasiada e triunfalista do poder do homem.  Nossa música ficou “antropocêntrica” e não “cristocêntrica”!   Jesus é a mensagem da exposição cristã.  Foi isso que Ele mesmo falou aos seus perseguidores religiosos em Jo 5:39: “Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.”  No caminho a Emaús Jesus repetiu a lição: “E começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a SEU respeito constava em todas as Escrituras (Lc 24:27).  O apóstolo Paulo deu esse testemunho sobre o motivo do seu ministério: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado . . . Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor”(1 Co 2:2, 2 Co 4:5).



[1] Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, (SP: Editora Cultura Cristã, 2002).