2011 : Menos é Mais ?

Pr. Davi Merkh

Certa vez um amigo que era muito ativista e nunca parava de trabalhar, falou para mim “O diabo não tira férias” . Ao que eu respondi “Não quero ser como o diabo!”. Mas levanta-se outra pergunta: “Deus tira férias?” . Num certo sentido a resposta é “não”.  Em João 5.17  Jesus responde aos seus inimigos, depois que ele curou no sábado “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”.  Ao mesmo tempo Salmo 121.1-4  diz “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro?  O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.  Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda.  É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel.”         

Mas a Bíblia em  Gn 2.1-3 diz: Assim, pois, foram acabados os céus e a terra, e todo o seu exército.  E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.  E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.

Entendemos que Deus não ficou exausto.  A palavra “descansou” significa que Deus PAROU.  Interrompeu sua obra criadora.  Ficou satisfeito e contemplou tudo que havia feito.  Baseado nesse padrão de um dia distinto em cada sete, iniciou-se o sábado (relacionado à palavra “descansou”), um dia separado dos demais de 7 em 7 dias.

Aprendemos algumas lições interessantes sobre nosso Deus baseado neste padrão de descanso e também de festas e feriados no VT.  Deus não é um mestre de escravos, sugando cada gota de energia e força e trabalho que temos para dar.  Deus não é um Deus ativista, exigente demais, demandando mais e mais trabalho, custe o que custar.  De fato, foi Deus que estabeleceu o padrão de um dia de descanso, reflexão, adoração e avaliação em cada sete dias.  Para Seu povo Israel, Deus exigia festas e feriados.  O calendário judaico incluia não menos de sete festas especiais durante o ano, em que Deus exigia que o povo tirasse até uma semana de folga para celebrações, lembranças, cultos especiais e festas, com muita alegria e muita comida!  (Páscoa, Pães Asmos, Primícias, Pentecostes, Trombetas, Expiação, Tabernáculos; no primeiro e no sétimo meses, principalmente, espaçadas para maior alegria e alívio, pois o homem não vive para trabalhar, mas trabalha para viver, e glorificar a Deus!).                       

Além disso, insistia que o povo deixasse a terra descanso por um ano inteiro de cada sete (o ano sabático) era um ano muito especial depois de 49 existia o ano do jubileu.  Esse é o Deus que servimos!

Não estou sugerindo que nós temos o dever de seguir o calendário judaico ou até mesmo a prática de anos sabáticos, ano do jubileu, etc. . . Existem igrejas messiânicas que fazem isso.  Mas não vejo esse padrão repetido no NT.  Como igreja de Jesus Cristo temos nosso próprio calendário baseado na obra final de Cristo na cruz.  Mas existem princípios importantes aqui.  A pergunta é “Por que Deus estabeleceu esses períodos de descanso e festa?”.

Parece-me que há pelo menos 4 respostas para esses períodos especiais, pois eles serviam pelo menos ara os propósito de : descanso, adoração, reflexão e avaliação.

Gostaria de sugerir que aproveitássemos essas épocas especiais do ano como férias, feriados e finais de semana para fazer justamente isso.  Gostaria de destacar especialmente os últimos dois itens, reflexão e avaliação, que parecem-me ser especialmente apropriados nestas épocas e para nosso dia de adoração no domingo.        

Estes intervalos oferecem para nós um período de pausa no corre-corre e no stress das nossas vidas.  Olhamos para trás.  Olhamos para frente.  Examinamos nossos valores.  Percebemos nossas falhas, e também nossas vitórias.  É um tempo para voltar às bases, aos princípios que nos guiam.  Nos dá uma oportunidade de corrigir o percurso, verificar nossos pontos de navegação e criar novas forças para continuar.                            

Tenho aproveitado estas semanas para fazer isso, e como resultado, gostaria de compartilhar umas ideias que tenho descoberto na Palavra de Deus que estão re-orientando minha vida. Tenho selecionado um tema para essa reavaliação: MENOS É MAIS.                                                                                                  

Nossa tendência é se alguém nos pergunta como vai indo e respondemos “Mais ou menos.” Gostaria de poder dizer: “Menos foi mais!”

Em que sentido?  Tenho reparado na leitura dos Evangelhos um aspecto da vida de Jesus fascinante: Simplicidade!  Jesus ficava livre de preocupações para poder ministrar, ensinar, cuidar de pessoas. Era uma pessoa despreocupada.  Não era como nós tão carregado de preocupações com coisas, negócios, tanta correria, tanto stress.  Parece-me que Jesus fez o que o autor de Hebreus recomenda “desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hb 12.1).  Na vida de Jesus, menos era mais!

Vejo pelo menos quatro áreas nas Escrituras com essa ideia de que “menos é mais”. Gostaria que tivéssemos um período de reflexão e avaliação sobre nossas vidas.  Sua vida é um stress só?  Está sempre exausto?  Sente que nunca para?  Que não tem mais energia ou vontade para servir ao Senhor?  Que sua vida está complicada demais?  Clamo a você para ouvir o que Deus está dizendo e tomar providências nesses dias para simplificar sua vida e voltar às bases, tirar alguns pesos que estão te sobrecarregando.

I.  Menos Correria e Mais Cristo (Lc 10.38-42)

Esse é o texto clássico que sempre deixa pessoas ativistas como eu sem jeito!  O fato é que eu sou como Marta.  Gosto da Marta!  Identifico-me com a Marta!  Precisamos de Martas neste mundo!  Não fosse alguém como Marta passaríamos fome nas nossas festas.  Mas entendo que na escala de valores divinos, Maria escolheu o melhor.  Escolheu Cristo acima da correria.  Marta quer fazer mais PARA Cristo.  Maria queria mais de Cristo.  Marta ficava exausta, porque ministrava em sua própria força.  Perdeu de vista o alvo do seu serviço que era Jesus.  Jesus Cristo estava na sua sala de estar e ela não parava de descascar batatas e lavar panelão!  (vs 40—Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços”).  (A palavra “agitava-se” (periespato) significa . . .

Como se não bastasse Marta, como tantas pessoas olhava ao seu redor, fazia comparações, e exigiu que sua irmã fosse igual a ela.  Criticava sua irmã e criticava o próprio Senhor Jesus!  Reclamava para ele.  Acusou-O de não se preocupar com ela.  É uma mulher intolerante, impaciente, inquieta, insatisfeita.  Pessoas que ocupam todo o seu tempo “no serviço do Senhor” mas que esquecem o Senhor do serviço muitas vezes acabam assim. Demandam mais e mais dos outros. Andam inquietas, intolerantes e  Impacientes. 

Mas Jesus não quer nada disso.  Se Marta insistia numa vida doida uma correria só tudo bem.  Mas ela não roubaria de Maria a escolha dela, de deixar a correria e estar com Cristo Vs. 41-42  Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas (turba-se)  com muitas coisas.  Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada.

Para Jesus, menos era mais. É tão fácil na obra do Senhor esquecer do Senhor da obra!  Perder nossa perspectiva, nosso rumo, tornar da obra nosso Deus.  Mas a obra do Senhor começa com o Senhor!  Comunhão com Cristo é o ponto de partida para fazer a obra de Cristo.  Conhecer a Cristo é essencial para saber o que Cristo quer que façamos.  Se não acabamos dando tiro em todas as direções, sem acertamos o alvo!  Mandamos chumbinho para todos os lados, na esperança de acertar alguma coisa, quando uma bala só seria suficiente.

Você é mais como Marta ou Maria hoje?  Será que Jesus Cristo está esperando na sua sala de estar e você está lavando panelão?  Corre que nem um louco nos serviço do Senhor, mas o que tem acontecido em com você ? você se esqueceu do Senhor?  Perdeu aquela comunhão gostosa com Ele?  Parou de conversar com Ele?  Parou de realmente adorá-lo?  De sentar aos seus pés para curtir Jesus?  Você perdeu sua alegria?  Anda tão ocupado que fica olhando ao seu redor criticando seus colegas, seus irmãos, chiando, reclamando, exigindo aplauso e reconhecimento?  Marta era assim.  Mas Jesus falou, “Menos é mais”.  Sirva-me, mas conheça-me primeiro.  Um espírito frenético e descontrolado não ministra para ninguém. 

Se for necessário você eliminar atividades da sua vida para retomar sua vida com Cristo, faça!  Não estou falando que você deve parar de ir à igreja, tirar férias do ministério.  É interessante que nos EUA, quando pessoas ouvem uma mensagem como essa, a primeira opção é de pensar, “Estou fazendo demais na igreja”.  Param de frequentar os cultos, visitar os irmãos, ensinar na classe.  Mas continuam trabalhando 60 horas por semana, correndo para cá e para lá para cuidar dos seus investimentos, levando seus filhos para aulas de música, informática, inglês, piano, escolhinha de futebol.  Antes de cortar nossa atividade espiritual, vamos examinar o resto da nossa vida primeiro.

Ao mesmo tempo que sugerimos menos correria e mais Cristo, gostaria de incluir um segundo menos baseado nesse mesmo texto:

II.  Menos “Programa” e Mais Pessoas (Lc 10.38-42)

Somos campeões no desenvolvimento de programas para atrair pessoas para a igreja, para ministrar para pessoas.  Mas é muito fácil permitir que o meio domina sobre o fim.  Programas são um meio para alcançar um fim.  Marta esqueceu disso!  Ela e Maria abriram sua casa para hospedar o Senhor Jesus e seus seguidores, dando uma oportunidade para ensino num ambiente quieto, sem distração.  Mas a própria Marta, tão agitada com as responsabilidade de anfitriã, acabou atrapalhando o alvo: Pessoas!

Temos que lembrar que o propósito final dos nossos muitos programas não é o programa em si, mas pessoas.  Não é manter a máquina funcionando, mas ministrar na vida de pessoas.  O programa não é deus!  Marta tinha Deus na sua sala de estar, mas estava mais preocupada que o almoço dela ficasse pronto na hora certa e queria tirar pessoas da presença do Mestre para que as cenouras ficassem prontas na hora determinada!

Esse foi um dos problemas principais dos fariseus.  Eles eram campeões de programas!  Eram as estrelas da religião, do legalismo, do crescimento da igreja (sinagoga).  Para eles o programa valia tudo!  O programa tinha que continuar, custe o que custasse, machuque a quem machucasse. Quando Jesus teve a ousadia de interferir com seus programas curando pessoas em meio ao sábado ficaram furiosos. Não estava no programa! Mas Jesus lhes respondeu “O homem não foi feito para o sábado (o programa), mas o sábado (o programa) para o homem!”

Como é fácil isso acontecer em minha vida!  Como é fácil ficar tão preocupado com os detalhes do meu “programa” que passo por cima das pessoas!  Talvez precisemos nos preocupar um pouco menos com o programa e mais com as pessoas. Devemos estar não tão preocupados em transmitir um conteúdo para meus alunos, mas perceber as necessidades dos alunos. Devemos prestar atenção além dos ministérios da igreja, mas nas pessoas dos ministérios da igreja.         

III.  Menos Livros e Mais Do LIVRO (Ecl 12.9-14)

O povo evangélico é um povo muito literário.  Gostamos de livros.  Nos últimos 10 anos temos visto uma verdadeira explosão na produção de bons livros evangélicos.  Existem hoje milhares de livros.  Devemos usá-los.  Devemos desfrutar deles.  Escrevo livros justamente para ajudar pessoas a conhecerem melhor a Deus, a servi-lO melhor. Nós sempre usamos livros no preparo das nossas mensagens. Mas existe um perigo muito grande.  Podemos correr para livro após livro antes de ir para O LIVRO.

O Pregador  de Eclesiastes escrevia livros (Provérbios, Eclesiastes e Cantares) O Pregador sabia que os livros têm seu limite (12.12)  o Pregador volta à base do conhecimento que é  Deus (13 temos cada vez mais livros, mas que são cada vez mais diluídos, genéricos, distantes da Palavra de Deus. Difícil se achar livros sobre educação de filhos que ensinem o uso da vara na disciplina. Livros que condenem o divórcio e recasamento ou homossexualidade. Livros que ensinem padrões de namoro para ajudar os jovens fogr da sensualidade. Quanto mais escrevemos, mais distorcemos a Palavra de Deus!

Não é anti-intelectualismo o Sl 119.97-100 mas uma questão de prioridade e autoridade final. As Escrituras nos deixam alguns versículos que nos mostram a importância do Livro.

Em  1 Pe 2.2  vemos este conselho do apóstolo quando ele diz: desejai ardentemente, como crianças recém nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para salvação. Em Dt 4.4 diz:não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Josué em Js 1.8 também menciona isto: não cesses de falar desse livro da lei, antes medite nele de dia e de noite. Assim como : Cl 3.16 habite ricamente em vós a Palavra de Cristo.

Certa vez alguém comentou: “Ou esse livro vai nos tirar do pecado ou o pecado vai nos tirar desse livro”.

O avô da minha esposa fundador do Palavra da Vida tinha um lema em inglês: “No Bible, no breakfast.  Em outras palavras “Se não leu a Bíblia, não toma café da manhã”.

Uma campanha de leitura muito boa é de ler a Bíblia inteira em um ano.  Mas sei que muitas pessoas começaram entusiasmadas mas no meio do percurso perdem fôlego.  Outras preocupações interferiram.  Ficaram para trás e desanimaram.  Mas não existe nenhum galardão especial no céu para quem leu a Bíblia 200 vezes, ajoelhado ou não.  O importante é se você está lendo, meditando, permitindo que esse livro leia você, seu coração, suas motivações.

Minha ênfase é, que esse ano seja um ano de menos livros, e mais DO LIVRO.

IV.  Menos para Coisas e Mais para a Causa (Lc 12.13-34)

Nossas vidas ficam entupidas com coisas que não passam de lixo no esquema eterno.  Somos estressados, exaustos, estrangulados pelas coisas, endividados, tudo por causa da manutenção de um padrão de vida, na expectativa da “vida boa”.

Certa vez um homem de negócios americano foi passar férias no México.  Encontrou um homem pescador à margem de um rio.  O pescador tinha pego vários peixes grandes.  O americano, impressionado, sugeriu que o pescador usasse mais que uma vara para pegar mais peixes.  Por que? Perguntou o mexicano.  Assim, você poderá vender os peixes na vila.  Por que? o pescador perguntou.  “Para poder ter lucro, e comprar mais equipamento, talvez um barco e uma rede.”  Por que?  Para contratar uma equipe de pescadores, entrar no alto mar, abrir uma fábrica e exportar peixes internacionalmente.  Por que?  “Para poder ganhar muito dinheiro, aposentar, comprar uma casa ao lado de um belo rio, e fazer o que você quiser o dia inteiro,” respondeu o americano, frustrado.  “Mas é isso que faço agora” disse o mexicano.

Jesus nos mostrou em Lc 12.13-23 que o quanto mais possuímos,  mais somos possuídos pelas nossas posses.  Quanto mais se tem, mais nos preocupamos em manter nossas posses!

Salomão em Provérbios 13.8 que diz:Com as suas riquezas se resgata o homem, mas ao pobre não ocorre ameaça!

Nossa vida muitas vezes tem se desviado do alvo ao se distrair com Tv, internet, Computador e seus jogos, hobbies e tudo que nos dá prazer e geralmente produz dívidas.

 Mas o investimento no reino! Conforme Jesus disse no evangelho de Lucas:  ninguém pode roubar, ninguém cobra imposto, não enferruja e nada consome.

Meus desafio é onde posso simplificar minha vida?  O que está me distraindo?  O que está causando mais stress?  O que está complicando minha vida?

Deus tem nos proporcionado um tempo para reflexão e avaliação. E forma que sejamos “mais ou menos” mas “Menos é mais”.

Menos é mais quando: Menos correria, Mais Cristo, Menos programa, Mais pessoas, Menos livros, Mais do Livro, Menos coisas e Mais para a Causa

E o resumo de tudo isso é: Menos de mim e Mais de Cristo

Essa verdade bíblica podemos perceber em Jo 3.30 onde mostra que :é importante que Cristo cresça e eu diminua. Paulo escrevendo aos Gálatas ele nos lembra que: nós estamos crucificados com Cristo, e vivo não mais eu mas Cristo que vive em mim. Este conceito também encontramos no Antigo Testamento no Sl 115.1  

Na verdade Menos pode ser Mais quando focalizamos em Cristo. E Paulo repete este conceito em:  Fp 3.13,14 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faça: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.