Baixinhos

 

Baixinhos e Altões

                                                                     

"Estou cansado de ser diferente" pensou Carlinhos enquanto caminhava para casa depois das aulas.  "Por que não posso ser igual aos outros?  Quando é que vou crescer?  Não agüento mais ser chamado baixinho . . ."

Num outro canto do mesmo bairro, Flávia tinha o problema oposto.  Não conseguia esconder suas lágrimas enquanto ela e sua mãe voltavam de mais uma tentativa fracassada de comprar roupas novas.  Com 1 metro e 80, Flávia era mais alta por muito de todas as moças da turma-e de todos os rapazes menos um.  E embora suas colegas não quisessem machucá-la, suas piadas sobre a "giganta" e perguntas sobre o tempo “lá nas nuvens” penetravam fundo.

Baixinhos e altões.  Sofrem muitas vezes de sentimentos de rejeição, inferioridade, anormalidade.  Fazem tudo possível para ser o que (ainda) não são.

Eu sempre era o segundo mais baixo da turma.  (Talvez teria sido melhor se fosse o mais baixo--pelo menos teria uma identidade própria!)  Mas não escapava das brincadeiras, piadas e gozações dos outros.  Tentava por todos os caminhos compensar a minha estatura: fiz exercícios para esticar minhas pernas e braços; musculação para fortalecer e ganhar peso;  usei sapatos com solo muito grosso.  Mas não adiantava.  Cresci, mas no tempo de Deus. 

Não são somente os altões ou  baixinhos que passam por aflições de inferioridade e descontentamento pessoal. Quase todo mundo fica sensível sobre algum suposto “defeito” pessoal: sejam gordos ou magrinhos, ricos ou pobres, com espinhos no rosto, dentes desajeitados, nariz torto, orelhões, olhos puxados, pele da cor errada, ou manchada ou . . . .  Acho interessante que até as modelos mais famosas do mundo sofrem complexos de inferioridade baseado em sua aparência "defeituosa"!  Querem ser iguais a "fulana" que julgam perfeita.  Só  que "fulana" quer ser igual a "siclana", e assim por diante.

Gostaria de sugerir alguns princípios que podem ajudar todos os "a-normais" a adquirirem uma perspectiva correta sobre si mesmos.

1.  Reconhecer e agradecer a sabedoria de Deus que fez você como é.  A pessoa que reclama que é alto ou baixo demais, ou que fica insatisfeita com o desenvolvimento (ou não desenvolvimento) do seu corpo, de fato está questionando a sabedoria de Deus.  Ele é quem formou o homem exatamente do jeito como é, diferente de todos os outros seres humanos, um indivíduo único  (Sl. 139:13-16). Pergunto: Se quero ser igual a todo mundo, quem será igual a mim?  Parece-me que a única coisa "normal" neste mundo é ser a-normal!  Talvez isso seja fruto da criatividade maravilhosa de Deus!

Muitas vezes só reconhecemos  os benefícios da nossa individualidade depois.  Por exemplo, na escola sempre fui gozado por ter olhos puxados, apesar de ser de descendência alemã.  Agora meu ministério está numa região onde há muitos japoneses.  Também, na época do colégio nos Estados Unidos fiquei frustrado que meu tamanho não permitia que jogasse futebol americano.  Ao invés disso, tive que optar pelo futebol brasileiro.  Hoje vejo a sabedoria de Deus nisso, pois o futebol tem aberto portas de ministério para mim não somente nos Estados Unidos, mas na África, e Brasil.  Deus sabia o que estava fazendo quando me fez assim.  Ele tem uma razão por que fez você exatamente do jeito que é.

2.  Mergulhar-se no amor de Deus por você.   Afinal de contas, não importa tanto o que outras pessoas pensam a seu respeito, mas o que Deus sabe sobre você.  Se você é filho de Deus, a Bíblia diz que quando Ele olha pra você, só vê a beleza e a justiça de seu Filho, Jesus (2 Co 5:21).  Deus ama você mais que você ama a si próprio.  Esta é a perspectiva correta sobre quem você é: um filho de Deus, adotado, aceito, amado, herdeiro e santo (que significa ser separado e diferente dos outros).  Em outras palavras, diferente que a psicologia popular, você não precisa se preocupar tanto com sua "auto-imagem", mas, sim, com sua "imagem-divina", ou seja, sua posição garantida como filho de Deus.

3.  Desenvolver a beleza interior.  O fato é que aparência externa é, no melhor dos casos, muito temporária.  Dentro de poucos anos mesmo o "gatão" e a "gatinha" da turma estarão lutando contra a barriga, rugas, cabelo grisalho e mais.  O que vale mesmo é o caráter da pessoa (1 Pd. 3:3,4).  Seu caráter é de valor eterno; sua aparência logo desaparecerá.

4.  Reconhecer seus pontos fortes e fracos.  Romanos 12:3, no contexto de dons espirituais, diz "Não pense de si mesmo além do que convem, antes, pense com moderação segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um."  O princípio aplica-se para outras áreas de nossas vidas.  Precisamos saber quem somos, identificar as áreas que podem e não podem ser mudadas, e pensar sobre nós mesmos com equilíbrio e bom senso.  Nunca devemos focalizar tanto em nossos pontos fracos que acabamos prejudicando as áreas fortes em nossas vidas.

5.  Melhorar o que pode sem cair em exageros ou prejuízo pessoal.  Nada impede que você faça o possível para melhorar sua aparência, especialmente quando está dentro do seu poder fazê-lo.  Por exemplo, a pessoa que tende a engordar pode e deve fazer o possível para controlar sua dieta e fazer exercícios apropriados.  Mas não deve cair na anorexia ou bolímia, nem cair na corp-olatria.  O que não consegue mudar deve ser aceito com gratidão e submissão à vontade de Deus, um "contentamento santo" dentro da soberania dEle.

6.  Dar tempo.  As coisas não são sempre como parecem.  Lemba-se da história do patinho feio?  Sempre lamentava o fato de ser diferente dos outros patinhos, até que um dia descobriu que era cisne.  O tempo tende a fazer grandes mudanças.  Lembro-me bem do rapaz mais alto e forte da minha turma na terceira série.  Na oitava série eu já atingira o tamanho dele.  Ele simplesmente cresceu rápido e cedo, mas parou.  Algo semelhante aconteceu com os “grandes” atletas da turma.  Muitos hoje são barrigudos e não conseguem correr alguns passos, enquanto outros da turma quer eram menos atléticos continuam até hoje praticando esportes, mantendo a forma, etc.  Os “grandes” tiveram uns poucos anos de "glória", enquanto os outros desfrutarão de uma vida inteira de saúde, força física e divertimento nos esportes. 

Tomara que Carlinhos e Flávia tenham a paciência e a sabedoria de descansarem contentes no plano de Deus para suas vidas.  Ele realmente sabe o que é melhor para cada um.  Devem também lembrar de uma velha mas sábia expressão que diz, "No fim, tudo dá certo."